Hoje, com 28 anos, e isso já faz um bom tempo, eu simplesmente não quero mais ser mãe. E esse sentimento foi multiplicado infinitamente por trabalhar em uma escola municipal de Ensino Fundamental de um bairro de classe média/classe média baixa.
As crianças não são mais crianças. São pequenos borrões de adultos, precocemente sexualizadas, que se vestem com shortinhos mais curtos que os que eu uso para dormir e mais maquiagem que eu uso para sair à noite. E esses borrões são resultado de uma geração anterior - ou nem tão anterior assim, já que grande parte dessas mães são mais novas que eu -, que em algum momento perdeu seus valores de família.
Não sou moralista. Eu mesma fui criada com muita liberdade, comecei a beber e a fumar muito cedo, usei drogas, mas meus pais sempre estiveram lá para mim. Nunca me proibiram de nada ou me esconderam alguma coisa, mas todas as cartas sempre estiveram na mesa, para o bem ou para o mal.
O fato é que crianças começaram a se tornar fardos. Uma geração irresponsável que passou a fazer filhos aos montes, sem se preocupar com a tal estrutura que eu falei anteriormente, financeira e - o mais grave - psicologicamente. Já que abortar não é legal - no sentido de lei - e é moralmente incorreto, vamos pôr no mundo de qualquer jeito. Amor? Educação? Bobagem, basta pôr comida na mesa, uma roupinha no corpo e algum aparelho tecnológico nas mãos para você poder assistir o Big Brother em paz, sem um pentelhinho te incomodando.
Meus pais me ajudavam a fazer tarefas de casa, iam às reuniões na escola, assistiam desenhos animados comigo, mesmo pela milésima vez e achando aquilo um saco. Minha mãe sofria em me mandar para a escola e comemorava a cada dia inteiro que podia passar comigo. Hoje eu vejo pais que sequer sabem o que se passam na escola, e volta e meia largam os filhos na porta da escola sendo que naquele dia nem aula tem.
E são essas crianças que crescem sem valores ou a simples concepção do que é ser uma família, do que é ser um ser humano querido e importante, é que serão os adultos de amanhã, que vão fazer ainda mais filhos, que seriam as crianças que iriam conviver com o meu suposto filho.
Não, obrigada.
Não quero minha filha sendo estuprada em um ônibus. Ou meu filho sendo alvejado por um maluco em uma sala de aula. Ou fazendo troca-troca com coleguinhas no banheiro da escola, porque os outros acham isso normal. Não quero sua vida sendo influenciada pela Valeska Popozuda, que é o que essa pequena geração em geral conhece.
Eu mesma mal custo a sair de casa todos os dias, tenho dificuldade em lidar com a falta de gentileza das pessoas que se atropelam nas portas de ônibus para ocupar uma cadeira com sua bunda preguiçosa, que não se importa em fazer sua parte em pequenas coisas do dia-a-dia porque já que o vizinho não faz, por que é que eu deveria fazer?
Como eu poderia colocar uma criança em um mundo que eu mesma quase não suporto?
Não, obrigada.
Então, eu tive acesso a uma informação que me deixou muito esperançosa. Laqueadura, ou ligadura de trompas. Esterilização voluntária. Pela lei, basta que você tenha 25 anos completos, independente se tem filhos ou não. Mas na realidade, tudo o que fazem é te barrar, e jogar na sua cara a velha informação de que você deve ter pelo menos dois filhos. O argumento é que a fila para a reversão está enorme, porque mesmo com esse impedimento, muitas mulheres se casam, têm dois filhos com um determinado homem, fazem a laqueadura e mais tarde se separam, se casam com outro homem e querem também um filho dele. E o resultado disso é que pessoas como eu, conscientes de sua decisão por motivos emocionais e racionais, são impedidas de usufruir de tal lei. Se eu entrar com um recurso legal, é claro que serão obrigados a fazer, porque querendo ou não, está na lei, mas... Onde estão tempo e/ou dinheiro para isso? Fiquei frustrada e decepcionada.
Mas além disso, quando você escolhe não ser mãe, ainda tem que lidar com as pessoas, geralmente mais velhas, desaprovando sua decisão, dizendo que você está muito nova para fazer uma escolha assim, e que irá se arrepender, pois são os filhos que irão te fazer companhia e cuidar de você na velhice. Pôxa, estou criando um filho ou um assistente de asilo?
Não, obrigada. Eu não sou tão egoísta assim.
O fato é que as pessoas não aceitam a ideia de uma mulher não querer ser mãe. É estranho, anti-natural, monstruoso. Certamente você não tem sensibilidade. Eu só convivi com crianças quando eu mesma era uma criança. Da adolescência pra frente, não tive mais contato com os pequenos. Não tenho amigos que têm filhos. Logo, não falo sua língua, não entendo como funcionam e tenho dificuldade em me comunicar com elas. E o resultado disso é que simplesmente não sinto falta de crianças, enquanto tenho as minhas filhas peludas de quatro patas em casa.
Não me entendam mal, acho o ofício de ser mãe maravilhoso, mas que fique bem claro, ser mãe. Parir não conta. Só que não é para mim. Meu psicológico/emocional é desestruturado demais para que eu seja responsável por outra vida, e mesmo que eu seja capaz de educar com qualidade e transmitir os valores que são tão importantes para mim, sei que tudo isso pode simplesmente se perder lá fora, e eu simplesmente não saberia lidar com isso.
Por isso, eu quebrei o tabu e aceitei "sair do armário", aceitando a condição de que não nasci para ser mãe.
E você? É mãe? Quer ser? Não quer ser? O importante é que a decisão venha de você mesma, e não seja influenciada pelo que é certo ou errado, porque a responsabilidade é sua, e não da sua mãe, da escola ou dos vizinhos. Por favor, tenham responsabilidade.
Eu confio na minha capacidade de criar psicologicamente um ser pra enfrentar o caos, mas financeiramente não estou preparada para assumir tal projeto. =P
ResponderExcluirAdorei o post! Acho super digno vc decidir o que quer para si mesma, e acho ainda mais bonito decidir não colocar alguém no mundo de hoje.
ResponderExcluirConheço pessoas que tem um filho na creche, ou na escola pública e ainda resolvem ter outro. Tipo?? Já tem um e não conseguem pagar escola boa, daí vai ter outro??? Eu sou mãe de um, uso meu salário todo para pagar uma escola decente. Infelizmente, preciso deixar meu filho no integral, mas pq preciso trabalhar. Se eu pudesse ter escolhido, (na verdade eu pude, né) mas gostaria q tivesse sido diferente.
Me esforço todo santo dia pra ensinar pra ele os valores q eu tenho. Sou do tipo q brinco, ensino, mostro e passo todo o tempo q tenho com ele. E mesmo assim, ainda tenho q assegurar que ele não passe por situações complicadas, o que é bem difícil hoje em dia. Resumindo, além de tudo q faço, ainda preciso contar com a sorte. Apoio muito a sua decisão e concordo com tudo o que disse. Beijão
Eu gosto das crianças que já existem, quero que elas estejam bem. Mas na verdade gosto de conviver somente com as educadas, porque não faço distinção na minha afinidade só porque é criança, não tenho obrigação de tolerar o filho dos outros sendo que eu tomo minha pílula regularmente.
ResponderExcluirEu tenho equilíbrio emocional para ter um filho e dentro em breve terei condições financeiras. Acho que eu seria uma boa mãe, mas não vejo necessidade em parir. Não mesmo. Se um dia eu quiser ser mãe prefiro adotar uma criança que já existe, pois não vejo sentido em por mais gente no mundo e não consigo disfarçar meu incômodo diante da animação de casais e pessoas "grávidos".
Ju, eu acho que é uma decisão individual... cada um tem que fazer por si só. Agora algumas vezes eu penso que uma solução dessas definitivas como vasectomia ou ligadura tem que ser muito bem pensada, você nunca sabe se daqui alguns anos a sua concepção não vai mudar.
ResponderExcluirE eu também penso que por mais caótico que seja o mundo, o jeito que você decidir educar o seu filho também pode ajudar a tornar esse mundo um pouco menos caótico.
Cada vez mais eu a admiro !!! sou homen e como voceeê tamben sofro pela minha escolha de não ter filhos.Por que é tão dificil para a sociedade aceitar que nem todo mundo esta preparada para formar um ser humano estruturalmente e psicologicamente ?
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