sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O fantasma do Ontem

Acordou confusa, a cabeça pesada, com o som de seu telefone. Levantou-se com dificuldade e caminhou até o aparelho. Era uma colega de trabalho. Estava atrasada. A sensação de urgência a dominou e, após inventar uma desculpa qualquer, começou a correria.
Um banho rápido, para tirar a sensação do "ontem" do corpo. O que havia acontecido ontem? Começava a receber os flashes. Lembrava-se da mesa de bar, de estar com os amigos. Bebida, bebida, bebida... Daí para frente, a lembrança se tornava nublada.
Seu desejo era de não se lembrar de nada. Mais uma vez acabou parando na casa de desconhecidos, qual a sequência de eventos que a levara até lá? Algumas imagens novas, nada de revelador. Mais lembranças embaraçosas, recordou-se de um tombo ao pé da mesa. As pessoas foram prestativas em ajudá-la, mas em sua cabeça, sabia bem o que estavam pensando. Aquilo era humilhante demais. Como podia parecer tão divertido, na hora?
Todo orgulho que tinha da pessoa que era desaparecia nesse momento. Onde ia parar aquela mulher tranquila, inteligente e equilibrada?
Lembrava-se agora das drogas. Durante o banho, entendia agora a necessidade de tanto assoar o nariz. Quantas vezes já havia repetido a si mesma que aquilo não era para ela? Sentiu nojo de si mesma. Mais uma vez. Pelo menos não tinha chorado na frente de todos. Tinha deixado isso para fazer dentro de casa. A visão do dia nascendo mais uma vez era como uma punhalada em seu peito. Sua vontade era de apagar o sol só para não ter que lidar com a noite que acabara de deixar para trás.
Aquilo trazia o que de pior havia nela. Todos os pequenos problemas se tornavam grandes demais para continuarem sendo carregados nas costas. Perdia o controle de seus sentimentos e ações. Lembrava agora de arremessar algumas coisas nas paredes. De chutar outras. De chorar no chão. Por sorte não havia quebrado nada.
Saindo do banho, conferiu as roupas. Sujas. Lembrou-se que no momento da queda, o chão estava sujo com bebida. Sua vergonha causando embrulho no estômago. Cortara o dedo. Lembrava-se do sangue na blusa branca, que lavou no banheiro do bar. Tudo aquilo parecia normal na hora. Por que não conseguia encarar o próprio reflexo no espelho, agora?
Consumida pelas lembranças e pela vergonha, vestiu-se e saiu para o trabalho.

Um comentário:

  1. E me perguntam ainda pq eu não consigo entender as pessoas que fumam, bebe, usam drogas de maneira que dizem - Ahn eu faço por que gosto e quero é a minha vida.

    -Blz é a sua vida ,mas mesmo sendo uma obra de ficção, o que você relatou é dia a dia de muita gente. É uma triste realidade que eu nunca, nunca vou entender como seres humanos, muitas vezes inteligentes até, se permitem fazer isso...

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