Infelizmente não pude estar presente na manifestação do dia 20 porque justamente esse mês troquei de horário no meu trabalho e estou à noite. E quando eu digo infelizmente, tenho esse sentimento potencializado e multiplicado algumas vezes, porque eu queria muito ir, de verdade. E fiquei ainda mais chateada quando vi depois as imagens, não houve tumulto e foi tudo muito bonito.
E aí eu me deparo hoje com esse vídeo. Esse vídeo. Créditos ao lindo Maxwel por ter me dado o toque. Produção de primeira, sem dúvida nenhuma, e incrivelmente emocionante. De arrepiar.
A HORA MAIS ESCURA // a marcha em Uberlândia from oruminante on Vimeo.
Atenção: as imagens a seguir foram todas retiradas do vídeo. Então se for usá-las, favor dar os créditos ao autor do vídeo aí de cima.
VAI PARECER UMA CRÍTICA MAS É UM PUTA ELOGIO
Mesmo na pacata e ordeira Uberlândia, terra da prosperidade e dos bovinos, a rua se encheu, quase 50 mil. Havia até o grupinho dos empresários. Pelo hábito, os abadás vieram também e as caras pintadas; menos para a guerra ou o embate, muito mais como maquiagem de um dia de festa, uma espécie de copa do mundo fora de época; micareta infiltrada. Em tempos de instagran e facebook, todo movimento ou paradinha para um registro era suspeito. Até a cara de rebelde ou raiva era posada.
Havia hinos e coros, gritos até, aqui, ali... mas que não faziam a mínima inveja num dia quase cheio no Camarú. Os refrãos do Caldas Country assustariam muito mais o prefeito. Foi uma espécie de volta pelo shopping, tipo em cidade pequena quando se abre um shopping novo e todo mundo vai lá pra olhar. Todo mundo deslumbrado pelo tanto de gente na rua e tudo ficou por aí, nesse auto deslumbre.
O clima de passeio ciclístico no Parque do Sabiá era tão favorável que os olhos tinham tempo de olhar as meninas de Uberlândia, que são as meninas mais bonitas do mundo, e hoje estavam bonitas como nunca. Se arrumaram com cartazes e bandeiras, vestidas na moda do momento.
Uma beleza tão frágil, sem medo nenhum da violência, tranquilas por saberem que moram em Uberlândia, onde parece que o maior medo é só quando chove na Rondon mesmo. Aliás, a mulher mais bonita da rua era uma policial séria, mais séria e concentrada que a própria marcha.
Uma beleza (agora de todos) que parecia não combinar com a ideia de marcha, de possiblidade de violência, de conflito e porrada... de gente que está disposta a ir até as últimas consequências porque não aguenta mais a vida que leva. Talvez sejamos uns privilegiados por aqui, talvez...
Eu ia andando perdido, atrás de uma boa história, de um rosto que me dissesse algo. Procurei um motivo e um sentido em algum lugar, fora de mim, não nos que eu já trago ou acredito. A verdade é que eu era mais um ali perdido na falsa certeza de que sabíamos onde íamos. Porque caminhar do centro até a prefeitura não é uma meta, é só um destino e não dura muito se você fizer rindo com os amigos. (qual era a luta mesmo?
Será que conseguimos responder sem recorrer a conceitos abstratos e que já fazem parte da própria lógica do sistema como: corrupção?)
Nem eu nem sabia os porquês. Mentira, na verdade. Todo mundo ali sabia, objetivamente ou não. O problema foi a nossa preguiça reinante que não quis procurar pelas respostas. Ficamos felizes de sermos convidados para o palco e subimos nele mais despreparados que antes.
Quando enfim a marcha chegou à Prefeitura, sentimos falta do espetinho na rua e do tio que vende cerveja no isopor. Sentimos falta da caixa de som e da tia do docinho naquele fim de noite.
Eu lá como parece que todos estavam. Eu era só mais uma Maria que foi à rua com as outras levados pela emoção do momento. Levei minha câmera, mas pela primeira vez minha câmera não me levou pra lugar nenhum.
Senti falta dos Prados. Mas eles são espertos demais. Mais do que nós. Muito mais. Só eles poderiam fazer aquilo virar uma mentira mais intensa.
Registrei uma briga de um moleque que pichava o muro da prefeitura. Encomenda do poder local e de seus aliados e asseclas, não tenho a menor dúvida (tenho certeza, aliás). Ele apanhou de um outro muito mais forte. Até os infiltrados me frustraram. Até a briga, quando veio, foi morna.
A rua estava cheia e linda. Foi lindo ver a rua cheia. Foi muito bom ver a contribuição local para o movimento geral que acontece em todo o resto do Brasil. E em se tratando de Uberlândia, da sua mentalidade histórica, foi um avanço espetacular.
Enfim, me senti um COMPLETO IDIOTA de estar ali hoje. E é isso o elogio. Se depois que nosso deslumbre passar por termos pertencido por um instante à massa e à luta, poderemos, quem sabe, sofrer aquele estalo salvador que nos remete a querer entender mais por que as coisas são como são e estão como estão. Vou começar a estudar agora, já...
Mas eu só saberia que hoje sou um completo imbecil porque fui à rua. Não tivesse ido, estaria no Facebook chamando os outros de idiota...
* por Renato Cabral
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