Hoje encontrei um texto falando sobre a mania que muitos de nós temos de "adiar o prazer". Pode parecer meio absurdo, mas acontece com mais frequência do que parece. Sem mais delongas, vou compartilhá-lo com vocês. Não é um senhor texto, mas é interessante. ^^
Se alguém tiver interesse, no final do artigo tem um pequeno teste para saber se você é uma dessas pessoas, se anda "adiando a felicidade". Clica aqui!
Pequenos e grandes bons momentos são fundamentais para uma vida feliz
Por Ana Maria Madeira
"Deixa o verão pra mais tarde", como diria um verso da música dos Los Hermanos. Deixar os momentos prazerosos para depois e muitas vezes renegá-los parece algo absurdo, mas que muita gente vem praticando sem se dar conta. Embora exista uma crença de que vivemos em um mundo hedonista, ou seja, que prioriza o prazer imediato, o comportamento de grande parte das pessoas tem ido muito mais em direção ao perfeccionismo: espera-se uma "superocasião" para usar aquela roupa especial, fazer um passeio ou viagem que tanto sonhou ou simplesmente comer aquele doce que namora na vitrine da doceria há tempos.
"Estamos inseridos numa sociedade em que o lema é 'somos o que temos'. O indivíduo passa a vida em busca de adquirir algo que legitime uma posição social considerada privilegiada, fazendo com que ele se esqueça de buscar o que lhe dá prazer", de acordo com a psicóloga Kátia Bizarro.
No dicionário, procrastinar quer dizer: "deixar para outro dia, ou para um tempo futuro, por motivos repreensíveis; adiar". Apesar de ser algo comum no comportamento contemporâneo, procrastinar o prazer definitivamente não é uma palavra que consta no dicionário dos hedonistas. Estes seguem uma ideia já abordada por muitos filósofos durante vários períodos da história de que o prazer é o caminho absoluto para a felicidade. No entanto, alguns desses pensadores pregavam o conceito de prazer irrestrito, algo quase irracional, o que acabou os deixando com fama de "promíscuos".
E é justamente esse caminho radical que muita gente segue, buscando o prazer a qualquer custo e de qualquer forma, o que acaba atrapalhando os deveres e fazendo com que o sofrimento se torne algo insuportável e indesejável - e que a euforia e a felicidade obrigatória sejam palavras de ordem.
Uma corrente filosófica alemã do séc. XIX, a fenomenologia existencial, chegou à conclusão de que nos angustiamos frente à nossa existência porque somos os únicos seres conscientes da própria finitude. "Para nos esquivar da angústia de ter que ser - já que ninguém pode ser por nós, e que somos seres para a morte - nos ocupamos excessivamente. Essa ocupação nos preocupa o suficiente para que nos esqueçamos do próprio ser e da morte. É como se negássemos a nossa própria condição finita, e a morte das pessoas que amamos", aponta a especialista. Assim, operamos justamente em um sentido contrário, pois acabamos não vivendo.
O mundo do trabalho contribui e muito para a procrastinação do descanso e dos prazeres. Pessoas que trabalham compulsivamente e vivem adiando suas férias como se não precisassem descansar, são centralizadoras, estão sempre reclamando do funcionamento do grupo, dizendo que tudo tem que passar por elas para acontecer.
Mais do que isso, na verdade são controladoras: temem perder o seu lugar na empresa ao delegarem tarefas para outras pessoas. Este comportamento tem como base uma grande insegurança, pois existe a necessidade de ser considerado essencial para o funcionamento do grupo.
Lembra-se do filme O fabuloso destino de Amélie Poulain? Sua encantadora protagonista é um belíssimo exemplo de quem aproveita os prazeres da melhor maneira possível. Ela inventa mil peripécias para fazer as atividades mais corriqueiras e acaba mergulhando em sensações aparentemente banais, como afundar a mão em sacos de grãos, fazer ricochetes na água do Canal St.Martin e de observar na escuridão do cinema as caras dos outros espectadores. Perda de tempo? Para muitos seria, mas para Amélie é uma grande contemplação. A preparação, a espera, o contar as horas fazem parte da brincadeira da vida e com Amélie é possível perceber o quanto essa espera pode ser criativa e prazerosa.
No filme "Sideways - Entre Umas e Outras", o personagem Miles é um típico "adiador de prazer", que guarda uma garrafa de Cheval Blanc 61, um vinho incrível, esperando uma ocasião especial há tanto tempo que ela está a beira de estragar. Uma amiga o aconselha, respondendo que o simples fato de abrir um Cheval Blanc é capaz de fazer uma ocasião ser especial.
Eu acho que sobre certos essa sensação de adiar o prazer pode ser válida, o problema disso é que a vida nem sempre deixa a gente fazer isso... A vida nem sempre espera... Algumas vezes adiar pode ser perder a oportunidade.
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