sábado, 1 de fevereiro de 2014

Porque as telenovelas me irritam


Talvez eu deva começar fazendo uma observação: a última novela que eu realmente acompanhei foi O Clone, que foi exibida em 2001/2002 - ou seja, eu tinha 18 anos. Mas a essa altura já achava tudo muito clichê e canastrão.
A novela traz tudo em preto e branco. Os mocinhos são o exemplo da benevolência e ingenuidade. Os vilões são o total oposto. São praticamente a representação do coisa-ruim na Terra. Não apresentam sequer um episódio de bom caráter, conseguem ser maus até dormindo.

Ninguém parece se lembrar que por via de regra, todos nós temos um pouco de coisa boa, e um pouco de coisa ruim (ok, como uma pessoa que não curte muito os seres humanos em geral, acabo achando que a maioria tem muito mais coisa ruim do que coisa boa, mas você entendeu onde eu quero chegar). Quero dizer, eu mesma tenho bastante orgulho do ser humano no qual me tornei, mas admito que tenho meus defeitos, que não são poucos. E certamente você também tem.

Mas voltando à novela. Pode parecer hipocrisia a crítica ao formato da novela vindo de uma pessoa que acompanha umas 20~30 séries diferentes (não, eu não tenho vida social. Ainda tenho que dividir o resto do tempo entre o trabalho, os animes, os filmes, os mangás, os livros, o blog, uma página no facebook, um PS2, duas cadelas, cinco gatos - 2 meninas e 3 meninos -, uma mãe e a tentar escrever um livro que vem se arrastando por anos), e realmente, se for levar em consideração o modelo, ambos são bem parecidos.

Mesmo as séries mais pesadas, como Breaking Bad, apresentam um elemento muito em comum com a novela: o drama. Intriga, traição, manipulação... Tudo isso tem. E geralmente também usam um recurso que é bastante explorado nas novelas, que é terminar um episódio com o suspense do que vai acontecer no próximo. Quem nunca, né?

Lembrando que estou falando aqui de uma maneira generalizada, pois exceções podem acontecer dos dois lados, as séries são muito diferentes das novelas porque os mocinhos cometem erros. Fazem coisas ruins, às vezes - às vezes, muitas vezes. Nos deixam com raiva deles. Os vilões também têm suas qualidades. E às vezes fazem coisas que nos fazem desejar que todos tivessem um final feliz.

E aí eu chego no ponto principal da minha dissertação: o final. Novelas me irritam profundamente porque é sempre uma questão de tempo - no caso, o final da novela - para que o mocinho tenha seu tão esperado final feliz, e o vilão, por via de regra, morre/vai preso/acaba numa situação de muito sofrimento ou se redime de uma maneira mágica e instantânea. De um dia pro outro ele descobre que é na verdade uma pessoa boa, apenas incompreendida e seguia o caminho errado, e aí se torna um ícone de tudo o que é mais louvável.

A vida não é assim. Não importa o quanto você se esforce para ser bom, correto e honesto. Isso nunca será o bastante para garantir seu final feliz. Não quer dizer que não seja bom ser assim, embora eu ache que isso é natural de cada um: ou você tem prazer em realizar coisas boas ou não. Não se pratica o bem esperando algo em troca, é simplesmente algo que vem de você.

Não, sua bondade não será recompensada com coisas boas acontecendo na sua vida. E infelizmente, não, suas ações maliciosas e prejudiciais - aos outros e/ou a você mesmo - não serão punidas magicamente com acontecimentos trágicos ou catastróficos. Pelo menos, não necessariamente. As duas coisa acabam acontecendo com todos nós, uma hora ou outra. Mas absolutamente não se aplica ao princípio da alquimia e da troca equivalente.

Durante os dias normais, enquanto fico no computador ou fazendo outras coisas que requerem um pouco mais de atenção, eu deixo a televisão ligada para fazer barulho. Porque eu gosto muito de música e a música acaba drenando toda minha atenção pra ela. E com isso acabo "pescando" uma ou outra coisa que acontece nas novelas. E aí eu acabei conhecendo o caso da dançarina de cabaré que se apaixonou por um monge budista, na novela das 18hs.

Nas férias, com bastante tempo ocioso e menos preocupações na cabeça, acabei prestando mais atenção nessas novelas em alguns dias. E em um deles eu vi uma cena que me tocou profundamente. Essa moça, Matilde, acaba confessando seu amor pelo monge, e ele, completamente devoto a sua orientação espiritual, se encontra incapaz de retribuir o amor dela, o que acaba causando uma sensação de muito sofrimento. Em um episódio, acontece um beijo lindo entre os dois, que acabaria se revelando apenas imaginação dela. E num outro dia, depois de alguma coisa que eu não assisti, ele resolve voltar pro Himalaia para se afastar da moça e impedir toda aquela dor.

A despedida deles foi muito triste, e aí entra um fator muito importante: exatamente nessa época eu estava passando por uma situação pessoal muito semelhante - não, eu não estou/estava apaixonada por um monge budista -, tentando lidar com a rejeição de uma pessoa que, assim como o dito monge da novela, admirava e gostava da dançarina, mas simplesmente não a amava. Tem coisas na vida que são assim, não tem como a gente fazer ou desfazer, né? Amar ou não alguém não está ligado a qualquer interruptor que você aciona quando quer ou precisa. Acontece. Esse fenômeno também é conhecido como friendzone, mas tenho a impressão que só os homens podem se lamentar quando isso acontece, porque só eles são dispensados quando tratam a mulher com carinho e respeito (por favor, parem. Simplesmente parem de se vitimizar assim)

Então isso mexeu muito comigo, eu me identifiquei muito com aquela situação e aquele momento, porque aquilo sim parecia humano e possível, as coisas na vida da gente dão errado, gente. É assim que acontece na maior parte do tempo. E é por isso que a gente se sente tão feliz quando as coisas dão certo. A satisfação do sucesso é potencializada quando comparada à frustração da falha.

Pois bem, mas por um instante eu esqueci que se tratava de uma novela da Globo. E o que aconteceu? Durante uma peregrinação o monge teve uma revelação de que sim, amava aquela moça e que tudo o que tinha vivido até então era apenas um caminho que o tinha preparado para aceitar aquele amor. Então, ele tratou de voltar para o Brasil e até onde eu sei ele e a Matilde estão vivendo felizes para sempre - essa é minha última semana de férias, então já não venho acompanhando mais o que anda acontecendo.



Entendeu onde eu quero chegar?

3 comentários:

  1. Olá, gostei do seu blog, bom conteúdo, temas variados. O ruim das novelas são esses formatos quadrados que eles apresentam das pessoas, bem distante da realidade(embora alguns falam que representem a realidade). Podia ao menos uma vez, algumas delas acabarem em tragédias, para variar um pouco.

    ResponderExcluir
  2. Sim, acho que a pior parte é isso mesmo, sabe. É tudo muito previsível! Você já sabe que o mocinho vai terminar com a mocinha, eles serão felizes para sempre e terão filhos no final da novela. Tudo acaba bem pra quem é legal e o vilão só se dá mal no final. É simplesmente chato.
    A Globo investe em cenários sensacionais, figurinos de cair o coo da boonda (principalmente em novelas de época) e o roteiro é sempre idêntico. Crianças não morrem. Mocinhos não morrem. Até vilão custa a morrer. Boring, boring, boring...

    ResponderExcluir
  3. Ah, e que bom que gostou do blog, fico feliz. Ultimamente tenho tido pouco tempo disponível então a frequência de postagens caiu bastante, mas volta e meia posto alguma coisinha nova ^_^

    ResponderExcluir

Todos os comentários estão sujeitos à aprovação, conteúdos com linguagem vulgar não serão tolerados. Comente! Participe!